geografias

11 de outubro de 2006

Sobre a Geografia


Muitas convulsões estão a ser sentidas na Geografia de Coimbra. Nestes anos primeiros de um século que tudo promete e tudo compromete, as fronteiras entre o verosímil e o impossível surgem crescentemente fluidas e assustadoramente ambíguas. Acompanhando o texto do Lúcio, com que concordo, precisamos de MOSTRAR aos outros - que muitas vezes somos nós mesmos -, que a construção socioeconómica precisa da interpretação, da explicação e da compreensão do geógrafo. Todavia, continuamos a não conseguir estar integrados na agenda de prioridades enquanto profissionais.

Como diz o Despacho nº 20 160/2001 (2.a série), a carreira de geógrafo na função pública implica grande diversidade de trabalhos, especializações, capacidades e competências. Identificam-se, naquele documento:
- o
estudo de fenómenos físicos e humanos do território no que respeita às suas distribuições espaciais e interligações às escalas local, regional e nacional;
- os estudos sobre o ambiente natural, o povoamento, as actividades dos grupos humanos e os equipamentos sociais nas suas relações mútuas, fazendo observações directas ou interpretando e aplicando resultados obtidos por ciências conexas;
- os estudos em diversos domínios, nomeadamente localização e distribuição espacial de infra-estruturas, população, actividades e equipamentos, ordenamento do território, desenvolvimento regional e urbano, planeamento biofísico e riscos ambientais, defesa e salvaguarda do património natural ou construído com vista ao arranjo do espaço e à melhoria de vida das populações;
- o recurso, com frequência, a tecnologias informáticas, como no caso dos sistemas de informação geográfica que permitem obter, armazenar, manipular e analisar informação especialmente referenciada, produzindo diversos tipos de documentos geográficos de relacionamento dos fenómenos.

- a que temos que juntar uma capacidade de trabalho em grupo e exploração interdisciplinar;
- a capacidade de intervenção social e política, como gestores de processos e analistas do território;
- e, não esqueçamos, como difusores de uma mensagem de cidadania, onde o/a Homem/Mulher e o/a Docente se transformam em orientadores de mentalidades no sentido do desenvolvimento sustentável.

Ora, assim sendo, porque é que o geógrafo não está mais presente nas discussões que afectam o território (pessoas e espaço)? Aqui os lobis são, efectivamente importantes. Sem uma instituição que faça valer uma voz uníssona e representativa dificilmente a nossa parceria social conseguirá entrar nas agendas de actuação das ciências da terra e das ciências sociais.

Precisamos de ORDEM. De facto, de uma ORDEM, que vai colidir com os interesses de alguns, com as vontades de outros, que precisa de assumir uma representatividade na docência, na investigação e na gestão efectuada por muitos geógrafos neste país.

Para isso temos que marcar posição a outras escalas. Dizer ao nosso “vizinho” (o do lado e o do outro lado do mundo) que temos um papel socioeconómico importante (onde, não esquecer, as ciências da Terra se integram).

Em Coimbra, a Geografia precisa de ser um Departamento de docência e investigação; precisa de assumir a liderança de processos que se diluem nos caminhos da administração universitária e do poder local.

Em Coimbra, precisamos, com Bolonha a arrombar-nos a porta, de criar 2ºs ciclos de excelência e licenciaturas trampolins para grandes profissionais.

Em Coimbra, precisamos de certificar a nossa investigação agregando-a a um Centro de valor inquestionável.

Em Coimbra, temos que não recear assumir posições mediáticas e utilizar os meios de comunicação como veículo de divulgação.

Em Coimbra, temos que convencer parceiros políticos e empresarias que o nosso trabalho é, como produto final ou como mais-valia para processos que procuram outros objectivos específicos, desde que no trilho do desenvolvimento sustentável, imprescindível.

Agora que novos espaços se nos apresentam, vamos guindar esta ciência a um novo patamar...


NS

5 de outubro de 2006

Reflexões sobre as entradas em cursos de Geografia

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Afinal a procura do curso de Geografia em Coimbra não foi assim tão reduzida! Em cima estão dois quadros que revelam a situação no final das matrículas da 1ª fase de candidatura. Quando se faz a comparação com os restantes cursos de Geografia existentes no país verifica-se que, se exceptuarmos a variante em Ensino da Geografia, os nossos números são muitos semelhantes aos outros. Se considerarmos apenas a variante em Ordenamento do Território estamos francamente de parabéns, uma vez que a percentagem de alunos matriculados face ao numerus clusus é a mais elevada no conjunto do País.
A nível da Faculdade também não nos podemos queixar muito! Com excepção dos cursos novos, apenas ficámos atrás do curso de Arqueologia. E na 2ª fase ainda vão entrar mais alunos e devemos ficar muito próximo do numerus clausus proposto.
Sei que os números se prestam a muitas e diferentes leituras. Sei também que aquilo que atrás escrevi não esconde a tremenda realidade de uma quebra significativa da procura nos cursos de humanidades e, consequentemente, também na Geografia. E o(s) curso(s) de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra não escapam à regra.
Os tempos actuais são tempos de intenso pragmatismo e utilitarismo. A escolha dos cursos é hoje regida muito mais pela empregabilidade que proporcionam do que pelos conhecimentos que se transmitem ou, como é politicamente (ou "bolonhesamente") correcto dizer, pelas competências que os alunos neles adquirem. Independentemente das discussões que esta questão possa levantar, parece-me pacífica a ideia de que é necessário mostrar que a Geografia é hoje, e cada vez mais, face aos desmandos de utilização territorial que se verificam todos os dias e a todos os níveis escalares, uma ciência útil e actual.
Como passar esta mensagem?
Em Portugal a Geografia, enquanto ciência pura ou aplicada, goza de algum prestígio. Felizmente são muitos os nomes de geógrafos que na vida universitária, na vida política, nos meios técnicos de apoio à decisão, em instituições públicas e privadas de cartografia, de planeamento, de gestão ambiental, ombreiam com especialistas de áreas disciplinares socialmente mais consagradas (engenharia, arquitectura, economia) e, em conjunto com eles, ajudam a produzir soluções para os muitos problemas de ordenamento territorial de um mundo em constante e acelerada mudança. No entanto, este prestígio parece não ser suficiente para atrair alunos à aprendizem da ciência das paisagens, dos espaços e dos territórios. Sugiro, então, que cada um de nós dê a maior visibilidade possível ao trabalho que faz, seja ele teórico ou prático, académico ou técnico, realizado na Universidade ou para uma Câmara Municipal. Não será o meu caso, porque não tenho grande jeito para jornais, rádios ou telelevisões, mas torna-se absolutamente necessário aproveitar a força do "quarto poder" para ajudar a passar a mensagem de uma Geografia actual, útil e necessária. Por isso, sugiro que todos aproveitemos as oportunidades que surjam para mediatizar a Geografia que fazemos. Não faz mal nenhum e ajuda a criar uma imagem e a atrair alunos para os cursos de Geografia.
A diminuição da aprendizagem da Geografia não põe só em causa os cursos universitários de Geografia, questão que, necessariamente, nos tem que preocupar. Põe, sobretudo, em causa o modo como se organiza, consome e vive o território. E, num paradigma de sustentabilidade ambiental e territorial, em que acreditamos e que todos desejamos, é necessário saber pensar o território!
Os geógrafos são necessários!
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Lúcio Cunha
 
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