Sobre a Geografia
Muitas convulsões estão a ser sentidas na Geografia de Coimbra. Nestes anos primeiros de um século que tudo promete e tudo compromete, as fronteiras entre o verosímil e o impossível surgem crescentemente fluidas e assustadoramente ambíguas. Acompanhando o texto do Lúcio, com que concordo, precisamos de MOSTRAR aos outros - que muitas vezes somos nós mesmos -, que a construção socioeconómica precisa da interpretação, da explicação e da compreensão do geógrafo. Todavia, continuamos a não conseguir estar integrados na agenda de prioridades enquanto profissionais.
Como diz o Despacho nº 20 160/2001 (2.a série), a carreira de geógrafo na função pública implica grande diversidade de trabalhos, especializações, capacidades e competências. Identificam-se, naquele documento:
- o estudo de fenómenos físicos e humanos do território no que respeita às suas distribuições espaciais e interligações às escalas local, regional e nacional;
- os estudos sobre o ambiente natural, o povoamento, as actividades dos grupos humanos e os equipamentos sociais nas suas relações mútuas, fazendo observações directas ou interpretando e aplicando resultados obtidos por ciências conexas;
- os estudos em diversos domínios, nomeadamente localização e distribuição espacial de infra-estruturas, população, actividades e equipamentos, ordenamento do território, desenvolvimento regional e urbano, planeamento biofísico e riscos ambientais, defesa e salvaguarda do património natural ou construído com vista ao arranjo do espaço e à melhoria de vida das populações;
- o recurso, com frequência, a tecnologias informáticas, como no caso dos sistemas de informação geográfica que permitem obter, armazenar, manipular e analisar informação especialmente referenciada, produzindo diversos tipos de documentos geográficos de relacionamento dos fenómenos.
- a que temos que juntar uma capacidade de trabalho em grupo e exploração interdisciplinar;
- a capacidade de intervenção social e política, como gestores de processos e analistas do território;
- e, não esqueçamos, como difusores de uma mensagem de cidadania, onde o/a Homem/Mulher e o/a Docente se transformam em orientadores de mentalidades no sentido do desenvolvimento sustentável.
Ora, assim sendo, porque é que o geógrafo não está mais presente nas discussões que afectam o território (pessoas e espaço)? Aqui os lobis são, efectivamente importantes. Sem uma instituição que faça valer uma voz uníssona e representativa dificilmente a nossa parceria social conseguirá entrar nas agendas de actuação das ciências da terra e das ciências sociais.
Precisamos de ORDEM. De facto, de uma ORDEM, que vai colidir com os interesses de alguns, com as vontades de outros, que precisa de assumir uma representatividade na docência, na investigação e na gestão efectuada por muitos geógrafos neste país.
Para isso temos que marcar posição a outras escalas. Dizer ao nosso “vizinho” (o do lado e o do outro lado do mundo) que temos um papel socioeconómico importante (onde, não esquecer, as ciências da Terra se integram).
Em Coimbra, a Geografia precisa de ser um Departamento de docência e investigação; precisa de assumir a liderança de processos que se diluem nos caminhos da administração universitária e do poder local.
Em Coimbra, precisamos, com Bolonha a arrombar-nos a porta, de criar 2ºs ciclos de excelência e licenciaturas trampolins para grandes profissionais.
Em Coimbra, precisamos de certificar a nossa investigação agregando-a a um Centro de valor inquestionável.
Em Coimbra, temos que não recear assumir posições mediáticas e utilizar os meios de comunicação como veículo de divulgação.
Em Coimbra, temos que convencer parceiros políticos e empresarias que o nosso trabalho é, como produto final ou como mais-valia para processos que procuram outros objectivos específicos, desde que no trilho do desenvolvimento sustentável, imprescindível.
Agora que novos espaços se nos apresentam, vamos guindar esta ciência a um novo patamar...
NS
2 Comments:
At 15 de novembro de 2006 às 07:41, Anónimo said…
como podemos nós algum dia mostrar que a geografia em coimbra tem valor económico social e tudo o que lhe queiram chamar, se como fachada do nosso novo e renovado departamento temos a apresentaçao que se ve na foto?? é que os olhos tambem comem...... mas parece que a geografia nem a isso tem direito .....
At 11 de janeiro de 2007 às 21:15, Anónimo said…
Está mais do que claro que a Geografia em Portugal tem um peso e uma importancia demasiados baixos.
Penso que a melhor forma de combater esta situação (se é que pode ser combatida ou alterada)é mesmo com uma entidade (associação, ordem ou seja lá o que for) que seja representativa e principalmente que represente como deve ser a nossa carreira.
É preciso agir e deixar de lutar apenas com as palavras.
Façam-se ouvir!
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