Onde está o Bode?
Janeiro deste ano. Dia frio com o sol a enganar os que pensam que já é Primavera. Os alunos estrangeiros (não virá ao caso a nacionalidade, apenas se refere para contextualizar) afirmam com gestos de assombro, afinal isto não são só pedras. E continuam a observar como se acabassem de sair de uma cegueira ignota.
Com uma varinha esguia e pouco austera, a guia percorre cuidadosamente o traço dos animais picotados rocha, naquela espécie de museu (ou museu mesmo) ao ar livre (não podemos tocar, esse privilégio só terá a chuva ou o vento), para que nenhuma figura fique sem ser revelada. Era para terem aqui construído uma barragem, mas o valor histórico deste património acabou por travar o processo, caso contrário tudo que está à vista teria desaparecido, explica para que percebam o poder da paisagem que os rodeia. Os alunos deixam ouvir um hãmmm (misto de concordância e de dúvida) e seguem caminho, esperando descobrir mais imagens escondidas nos rochedos.
Quanto valem as figuras? Que preço, que peso, que valor, que tamanho, que padrão… como é avaliado o património? Quem o faz? Quem o pode fazer? Eu posso fazer? Nós podemos fazer? Não me aflige a falta de respostas, ou melhor dizendo, a resposta concreta, o peso, a medida ou o valor do(s) património(s). A mim o que me atemoriza é o Ser Humano e as suas intenções, o fim último dos procedimentos, sobretudo os interesses que servem. O que hoje é património de elevado interesse amanhã pode não o ser, o que hoje pouco valia amanhã pode ter uma incomensurável importância patrimonial. Utilizar como arma de arremesso a herança à qual se atribuem valores mal medidos, convencendo o mundo que há ouro onde só existe caruncho, ou então ignorando avisos de quem mais sabe e destruindo identidades e memórias que desaparecerão de forma irremediável das nossas vidas, é um jogo extremamente perigoso (mas ele existe, é e continua a ser jogado).
Os alunos perseveram na busca, agora fotografando as figuras. No jipe deixam-se embalar pelos bruscos solavancos que a guia tenta minimizar (a estrada sacode os visitantes numa fúria às vezes pouco comedida), no entanto lá vão dizendo, afinal isto não são só pedras…
Com uma varinha esguia e pouco austera, a guia percorre cuidadosamente o traço dos animais picotados rocha, naquela espécie de museu (ou museu mesmo) ao ar livre (não podemos tocar, esse privilégio só terá a chuva ou o vento), para que nenhuma figura fique sem ser revelada. Era para terem aqui construído uma barragem, mas o valor histórico deste património acabou por travar o processo, caso contrário tudo que está à vista teria desaparecido, explica para que percebam o poder da paisagem que os rodeia. Os alunos deixam ouvir um hãmmm (misto de concordância e de dúvida) e seguem caminho, esperando descobrir mais imagens escondidas nos rochedos.
Quanto valem as figuras? Que preço, que peso, que valor, que tamanho, que padrão… como é avaliado o património? Quem o faz? Quem o pode fazer? Eu posso fazer? Nós podemos fazer? Não me aflige a falta de respostas, ou melhor dizendo, a resposta concreta, o peso, a medida ou o valor do(s) património(s). A mim o que me atemoriza é o Ser Humano e as suas intenções, o fim último dos procedimentos, sobretudo os interesses que servem. O que hoje é património de elevado interesse amanhã pode não o ser, o que hoje pouco valia amanhã pode ter uma incomensurável importância patrimonial. Utilizar como arma de arremesso a herança à qual se atribuem valores mal medidos, convencendo o mundo que há ouro onde só existe caruncho, ou então ignorando avisos de quem mais sabe e destruindo identidades e memórias que desaparecerão de forma irremediável das nossas vidas, é um jogo extremamente perigoso (mas ele existe, é e continua a ser jogado).
Os alunos perseveram na busca, agora fotografando as figuras. No jipe deixam-se embalar pelos bruscos solavancos que a guia tenta minimizar (a estrada sacode os visitantes numa fúria às vezes pouco comedida), no entanto lá vão dizendo, afinal isto não são só pedras…
Fátima Velez de Castro
2 Comments:
At 20 de abril de 2008 às 19:42, Anónimo said…
Ah pois o Bode!!! Desculpe a minha ignorância onde é que ocorreu tal facto? Mas o que é certo foi uma opção acertada e o valor desse património travou a sua destruição. Mas desde já lhe digo que parece que estamos a regredir até à época do Estado Novo em que só se dava muita importância aos valores de grandeza nacional. Lá isso é verdade e concordo plenamente com a frase: “O que hoje é património de elevado interesse amanhã pode não o ser…”e quando se mete o Estado não há nada a fazer nalguns casos. Posso dar um exemplo concreto de que há pouco tempo foi achado uma vila romana a caminho da Figueira da Foz e estão a construir uma auto – estrada, depois de concluídas as escavações taparam os achados com tela própria para a estrada e assim ficou. Podia – se ter aproveitado esse património para fins turísticos e alterado a trajectória da auto – estrada, mas não o Estado tem um GRANDE poder de decisão.
At 8 de maio de 2008 às 11:36, Anónimo said…
Caro Nuno, obrigada pelo seu comentário, esta fotografia foi tirada em Foz Côa numa visita de estudo realizada com alunos estrangeiros da FLUC.
Se não visitou aconselho-o vivamente a incluir um roteiro por estas paragens no seu plano de férias.
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